Da gula...
Como deverão ter conhecimento, aqui por estas bandas as gentes não têm por hábito digladiar-se com um pires de caracóis, o que levou a que eu sentisse algumas saudades dessas gosmentas criaturas.
Assim sendo, eis que me vou ao supermercado da zona, em busca de um quilito deles, para em casa os meter na panela.
Acabando de cozinhar a especialidade, acompanhado de uma geladinha e da patroa, e em frente ao televisor (o que é um gajo leva de melhor na vida, digam lá?), começo a intentona...
Como é costume, um tipo começa por atacar os que têm os cornichos de fora, a olhar para nós. E a técnica é simples: agarra-se o bicho pela casca, aponta-se ao alvo, e chupa-se.
Isto está-me cá a fazer lembrar uma anedota, mas não vou comentar...
Ora foi neste ponto que me aconteceu uma que, do alto dos meus 32 anitos, ainda não me tinha acontecido:
Engoli o raio do bicharoco inteiro! Casca incluída!!
Imaginem agora os meus pensamentos:
1 - Se entrou, vai ter que sair
2 - O meu suco gástrico é poderoso o suficiente para dar cabo da casca?
3 - Se não é, será que vai custar a sair?
4 - E se a casca nunca saísse?
5 - Um dia faria uma radiografia (ou uma autópsia), e voilá: Monsieur L’Escargot!
6 - E se morresse daquilo?
7 - É tão ou mais idiota que morrer com Creutzfeldt-Jakob...
8 - E se por uma qualquer ironia do destino, o bicho estava vivo?
9 - Sendo hermafrodita, pode bem reproduzir-se aqui no quentinho...
10 - Significaria isso que eu estaria de esperanças?
11 - Meu rico e intocado esfíncter...
A verdade é que, dias volvidos e umas quantas idas à casinha, o bicho nem cheirá-lo...
E assim nasce um mito...